quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Liberdades e o Estado. Há limites?

Falar de liberdade não é uma tarefa simples, principalmente nos dias de hoje em que as redes sociais possibilita dizer o que se bem entende. Muitas vezes lemos comentários como ''a página é minha, eu falo o que quiser''. O grande problema reside neste ponto: A Constituição Federal garante aos cidadãos diversas liberdades, tais como a liberdade de locomoção, liberdade religiosa, liberdade de expressão e outras. Ocorre que as liberdades não são infinitas. Sempre que uma liberdade ultrapassar os limites de outro direito, esta se tornará passível de punição. Para ilustrar esta afirmação, o autor Paulo Gustavo Gonet Branco lecionou que: ''A proibição da censura não obsta, porém, a que o indivíduo assuma as consequências, não só cíveis, como igualmente penais, do que expressou. A liberdade em estudo congloba não apenas o direito de se exprimir, como também o de não se expressar, de se calar e de não se informar.''¹ Em outro momento, o mesmo autor complementa dizendo: ''Assim, o comportamento não protegido pela liberdade de expressão, que viola o direito fundamental de outrem, pode vir a motivar uma pretensão de reparação civil ou mesmo ensejar uma reprimenda criminal''². Logo, a liberdade de expressão pode, sim, ser limitada sempre que ferir outro direito, outra liberdade.

Em outra análise, conforme discutido na postagem anterior, a liberdade religiosa foi garantida pelo Estado brasileiro ao optar por não ter uma religião oficial. Porém, vemos diariamente a interferência da religião nas liberdades civis. Como foi dito no texto passado, não há como proibir a participação das Igrejas no sistema político brasileiro. Suprimir esse direito seria atentar contra diversas liberdades, o que seria um contrassenso absurdo. Porém, não há como aceitar, na mesma toada, que entidades religiosas suprimam liberdades do cidadão. E explico: 

Recentemente descobri que existe um projeto de lei que cria o Estatuto da Família. Lá, haverá uma definição de família como núcleo formado a partir da união entre homem e mulher. Eu me pergunto qual é o interesse do Estado de definir o que é ou não família? Trata-se de projeto de cunho conservador, com forte apelo religioso envolvido. Não é possível, nos dias de hoje, querer limitar o Estado pautado em dogmas ou preceitos religiosos. O ser humano precisa ser livre para viver da forma que melhor lhe convier, sem interferências em sua escolha e com a proteção do Estado em casos de atentados contra a liberdade. Diante disto, não há como tolerar que ainda hoje se discuta se é correto ou não que pessoas do mesmo sexo casem, que as pessoas usem ou não drogas ou até mesmo que exista um modelo familiar tutelado pelo Estado. Pra mim soa um absurdo que esses assuntos estejam na pauta do legislativo.

O Estado tem o dever de proteger os cidadãos em seus direitos civis sem querer definir padrões de sociedade. O Estado precisa querer buscar um país com igualdade de direitos e obrigações, e garantir qualidade de vida ao povo. Não é possível mais, em pleno século XXI, querer que o Estado interfira em todas os aspectos da vida do ser humano. O que precisamos é um sistema que permita, cada vez mais, que as pessoas sejam livres para viver da forma que bem entendam e que tenhamos um Estado que garanta educação e saúde qualidade, segurança aos cidadãos, bem como uma economia sólida que faça com que seus cidadãos vivam bem. Enquanto as prioridades dos políticos se concentrarem no que não importa, de fato, teremos um país atrasado e cada vez menos livre e justo.

Referências

1. MENDES, Gilmar Ferreira: Curso de Direito Constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet Branco;
2. [IDEM].





domingo, 7 de setembro de 2014

O Estado e a Religião.

Desde a última publicação feita neste espaço, muita coisa interessante aconteceu. No universo político brasileiro, eventos pouco usuais mexeram nos gráficos eleitorais transformando toda certeza numérica em grandiosas incertezas. Com a morte do candidato Eduardo Campos (PSB), sua vice, Marina Silva, assumiu a cabeça da chapa com um discurso de nova política que com o passar dos dias, gerou desconfiança em muitos analistas políticos.

Atrelado à retórica de nova política e de toda desconfiança nela contida, a crença religiosa da candidata passou a ser alvo de críticas nas redes sociais, principalmente após a divulgação de uma falha no plano de governo, especificamente no que dizia respeito ao casamento de pessoas do mesmo sexo. Sabe-se que os lados mais conservadores da política - inclui-se a Igreja de que Marina Silva faz parte - não concordam com a legalização do casamento homossexual. A partir das declarações prestadas pela candidata alterando o plano de governo, deu-se início diversas de manifestações na internet pedindo pela defesa do Estado Laico.

Fica aqui a pergunta: É o Brasil um estado laico?

De acordo com o último censo, os católicos representam mais da metade da população brasileira. Esse alto índice de católicos no Brasil possui explicação histórica. A América Latina é uma região majoritariamente católica em detrimento de sua colonização dividida entre Portugal e Espanha. Um exemplo desse fato está contido na Constituição brasileira de 1824, período do Império, onde a religião Católica era considerada como oficial. Estados como os da Argentina e Bolívia ainda têm o catolicismo como religião oficial.

Porém, a atual constituição o Brasil não reconhece nenhuma religião como oficial e garante liberdade de crença e de consciência, protegendo, inclusive, os locais de culto e suas liturgias. O que nos faz entender que o Estado, apesar de não possuir religião oficial, não é ateu. Ao garantir a liberdade de consciência, de crença religiosa e convicção filosófica, a Constituição possibilitou que o cidadão escolhesse entre crer ou não. Diante disso, a resposta para a pergunta acima é SIM, o Brasil é um Estado laico e somente diante de um processo democrático de escolha da maioria tal condição mudará.

Sabe-se que os interesses de todas as religiões interferem, mesmo que de forma indireta, no processo político e na formulação de políticas públicas. O simples argumento de que um candidato escancara suas preferências religiosas não faz dele mais ou menos capacitado. A preocupação dos brasileiros deve ser até onde queremos um país mais justo e mais igual? Até onde a interferência de líderes religiosos pode afetar o acesso aos direitos fundamentais para todos, sem discriminação? Estando tão próximos das eleições, preocupar-se com religião deveria ser o menos importante. Precisamos nos preocupar com é o melhor para o desenvolvimento econômico, social, político e jurídico do país.

Sim, temos um Estado laico. O que precisamos, efetivamente, é de um Estado mais justo, mais igual e de um sistema político mais eficaz. Estado e religião sempre andaram juntos, dificilmente haverá um rompimento total entre os dois. O foco das demandas sociais deve ser o da construção de um Brasil melhor, sem intolerância religiosa.