sábado, 26 de julho de 2014

Brasil: O país onde criminalizar condutas é melhor do que educar.

Temas espinhosos como a redução da maioridade penal ou a nova lei ''da palmada'' têm sido alvo de intensos debates na mídia e nas redes sociais. Minha proposta não é de adentrar nesses terrenos já muito batidos e pouco frutíferos, mas sim, fazer uma pequena constatação acerca da falta de prioridade do discurso brasileiro em relação à (falta) da educação. Como sempre, no Brasil, as prioridades são invertidas. O que é realmente importante é deixado para depois, e o velho ''tapar o sol com a peneira'' soa muito mais relevante para a sociedade.

A visão imediatista do brasileiro se reflete diariamente nessas discussões. Há que se ter em mente que para o país mudar, é preciso que o povo mude antes. De nada adianta cobrar das autoridades mudanças se, no dia a dia, as atitudes das pessoas são idênticas àquelas que elas mesmas criticam. De nada adianta pedir que as pessoas mudem se você não é capaz de se ouvir, de refletir antes de falar. Recentemente vi um debate sobre bullying nas escolas. Fiquei perplexo ao saber que já existem projetos que visam aplicar medidas socioeducativas em adolescentes que praticarem o bullying. Ora, soa pouco razoável aplicar medidas judiciais contra adolescentes. A mim me parece bem  mais simples - e barato para o Estado - cobrar das escolas o desenvolvimento de métodos mais eficazes em que a educação preventiva fosse repassada para esses jovens do que enquadrá-los como menores infratores, certo? Seria, também, muito mais barato para o Estado se os pais fossem instruídos de que cabe a eles a educação básica de seus filhos e que não devem transferir toda a responsabilidade para as escolas, ou para o Estado, ou para a mídia ou para quem quer que seja.

Outro tema já abordado neste blog e que tem ganhado cada dia mais importância na mídia, diz respeito ao uso medicinal da cannabis. A cada dia que passa, os efeitos medicinais dessa substância têm se mostrado mais efetivos. O Brasil, seja por culpa da burocracia ou da excessiva ''moral'', ainda insiste em criminalizar o uso de algo que pode, desde que obedeça certos limites, salvar vidas de muitas pessoas. Mas a consciências criminalizadora das alas mais conservadoras da sociedade contribuem para que muitas pessoas deixem de receber tratamento adequado. Ressalto que acerca da descriminalização das drogas ilícitas, não possuo nenhuma opinião formada, uma vez que os efeitos negativos são, por vezes, destruidores.

Em suma, se faz necessário chamar a sociedade para a reflexão. Não é mais compreensível, nos dias atuais, que pensamentos semelhantes aos do século XIX continuem tomando as discussões diárias. Há que se compreender que o maniqueísmo excessivo contido nos debates encontrados pelas redes sociais, bem como no meio político e na mídia, se configura em um retrocesso com proporções incalculáveis. Há que se deixar de lado a busca constante pelo certo e o errado e procurar o melhor para o progresso social. Sem o uso da reflexão e do pensamento crítico, a criminalização de condutas simplórias continuará nos afastando de enxergar que tais medidas são paliativas e que, no fim das contas, não resolvem o problema. Por mais longo que o caminho da educação possa parecer, não há outra solução. Ou se investe em educação, ou ficaremos estagnados no mesmo lugar. Está em nossas mãos.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

E agora, Brasil?

Estatísticas encontradas nas redes sociais são sempre engraçadas. Desde a derrota da seleção, ontem, encontrei muitas críticas sensatas ao Brasil e aos brasileiros, mas a maior parte delas entrava no rol de bizarrices da internet. Uma que me chamou muito a atenção foi a de que o nosso país é o mais corrupto do mundo. Afirmar isso é tentar esquecer que existem outros continentes ou é se aproveitar da falta de informação de muitas pessoas. O relatório anual da Organização Transparência Mundial, uma das mais respeitadas do mundo, apontou que no ano de 2013, o Brasil ficou na 72° colocação entre os países mais corruptos do mundo. No topo da lista foram encontrados países da Ásia e África. Para se ter noção, os três países mais corruptos, foram o Afeganistão, a Coreia do Norte e a Somália.

Qual a conclusão que posso tirar disso tudo? Em primeiro plano, que o Brasil é, de fato, um país muito corrupto. É inegável. Perdemos rios de dinheiro com desvios, mas o nosso país sofre também com má gestão de recursos. A máquina estatal está inchada demais, há gastos excessivos com pessoal, uma prova disso é a indústria que se formou graças aos concursos públicos. Em um país onde se é mais vantajoso prestar concurso público do que empreender, vemos que há algo muito errado. Não critico quem faz concurso justamente por saber que na maioria das vezes, não há outras opções. Cidades como o Rio de Janeiro, em que o custo de vida é estratosférico e os salários na iniciativa privada são baixíssimos, não cogitar tornar-se servidor público é quase insanidade.

Em segunda análise, existe uma indústria cada vez mais forte responsável por produzir desinformação. Boatos surgem de hora em hora nas redes sociais e muitos deles são criados tão somente para alarmar pessoas que, por força de diversos fatores como desinteresse, falta de educação apropriada ou ingenuidade, acabam acreditando e repassando essas informações. Nosso país não irá mudar enquanto a população estiver pronta para isso. Atitudes corruptas estão enraizadas na vida de muitas pessoas e estas sequer notam. Ao entendermos que corrupção pode significar desde suborno até sedução, levar pessoas a acreditarem em informações falsas, fruto de ideologias políticas ou mera traquinagem, ao meu juízo, se perfazem em ato de corrupção.

A falta de senso crítico é tão escancarada que vimos com uma rapidez assustadora o povo brasileiro mudar seus sentimentos para com a copa. Um ano atrás, o ódio era visível. Agora, o amor e o patriotismo ganharam seu espaço. E a indústria da desinformação cumpre seu papel exatamente nessa transição. É realmente necessário abominar a copa por conta da corrupção? É realmente necessário torcer contra o Brasil somente se valendo do argumento de que se é contra a copa? Quem torceu pela seleção brasileira é realmente uma pessoa sem instrução ou alguém que não liga para a política? A resposta é negativa. O Brasil é o país do futebol. Nenhum outro esporte faz tanto sucesso aqui quanto o futebol. Furtar das pessoas o direito de torcer, vibrar, soa quase como um autoritarismo velado. O cerne da questão encontra-se em outro ponto. Encontra-se em como essas pessoas conseguem dividir as coisas. Pensar em política, cobrar das autoridades e querer um país melhor não anulam a paixão e a vontade de torcer pela seleção brasileira.

Razão pela qual, entendo que antes mesmo de ir às ruas, gritar por mudanças e melhorias, a população deve aprender a refletir, aprender a pensar de forma crítica; Indagar-se. O brasileiro precisa aprender, também, a olhar-se no espelho e enxergar que a corrupção está inserida em muitos de nossos atos corriqueiros. Se não mudarmos, cobrar mudança dos outros soa como um contrassenso. Na era digital, onde as informações atingem uma velocidade quase incalculável, quebrar o ritmo da corrente e questionar-se sobre aquilo que se vê ou lê, é o primeiro passo para que nosso povo consiga, enfim, protestar por aquilo que realmente importa